Embora me custe acreditar, cá estou... em um hospital. De companhia, só o frio, que não consigo comparar. Foi tudo muito rápido. As coisas não tem sido fáceis a tempos... mas por essa eu realmente não esperava. Tenho muita fé em Deus, acredito em seus projetos, só assim cheguei até aqui. Muitas vezes me pergunto como. Tenho estado engasgada com todos esses sentimentos. Sinto uma necessidade imensa de eternizá-los, porque embora o melhor seria esquecê-los, nesse momento é o único jeito que encontro de me livrar deles... Não me desfazendo deles, e sim os guardando, não em mim, em algum lugar! Assim eu consigo tentar me desvencilhar deles... Embora tristes, são partes de mim! Nesse momento, eu teria todos os motivos do mundo pra não querer estar neste hospital. Já passam das 02:00, o frio vem de encontro, forte, marcante embora tão silencioso, mas logo ali ao meu lado, uma das pessoas mais importantes da minha vida, meu mestre, meu ídolo, meu pai. E poder estar aqui neste momento me conforta, agradeço a Deus a oportunidade de poder dele cuidar, de poder ao seu lado estar. Tento organizar minha angústia, essa que não consigo explicar, mas que preciso externizar para encontrar alívio e paz... A poucos minutos ainda tentava com ele conversar... E essas conversas ficam cada vez mais espassadas... Cada vez mais raras... são pequenos momentos que seu cansaço, que sua dor, que seu corpo consegue suportar. Ele me chamou a pouco, me fez perguntas sobre a empresa as quais não ouviu mais que meia dúzia de palavras... Essa oscilação entre a consciência e a falta dela, entre o estar desperto e o sono me assusta. Talvez porque sou leiga, mas é fato que ele está com dificuldades de vencer essa primeira etapa. Eu assim vivo assombrada, com medo do que estar por vir... Tenho medo dos próximos exames, tenho esperança sim de que logo isso vai começar a mudar, mas tenho medo. Esperavam por uma melhor resposta desse rim, por melhores parâmetros em determinados exames, eu prefiro não saber, não ver, só pensar que tudo vai passar. Tenho urgência em ver essa melhora... esse sofrimento dele, nosso, me angustia. Entre um minuto e outro, fito seus olhos, que são preocupados... Pergunto se está tudo bem... Ele sempre acena que sim... Então me levanto, arrumo suas cobertas, pergunto se quer algo, uma água, ou talvez uma massagem nos pés, ou seria nas mãos, uma conversa... Mas a essa altura ele já está dormindo novamente. Ora, depois de tantos contratempos, de tantos exames, tantas agulhadas e remédios ele ainda acena que sim... Minha angústia cresce porque sei o quanto ele é forte, o quanto deve lhe doer esse tratamento, tanto físico quanto mentalmente, e o tamanho de seu esforço de nos assegurar que apesar de tudo que estamos vendo, ele está bem!
Assim tem sido nossa rotina, a essa altura já não consigo orar. Minhas orações são agitadas, atribuladas. Não consigo fazer esse contato com Deus. Então, me apresso a dizer: "Jesus, eu confio em Ti, esteja conosco! De resto, só esse frio a me fazer companhia e a esperança de um novo e feliz dia se levantar!