sábado, 18 de julho de 2009

Uma verdade...

Minha querida amiga Line esteve comigo nesta quarta 15/07, sofremos juntas a perda de nosso amigo de farra... e ela cantarolou essa canção do Legião Urbana, Os bons morrem jovens...
Porque é sempre assim? O mundo se pergunta isso... Muitas pessoas que me abraçaram nesses dias também se perguntaram ... Porque os bons morrem jovens? Ele realmente era bom, quem o conheceu, sabe.


"É tão estranho
Os bons morrem jovens
Assim parece ser
Quando me lembro de você
Que acabou indo embora
Cedo demais

Quando eu lhe dizia
Me apaixono todo dia
É sempre a pessoa errada
Você sorriu e disse
Eu gosto de você também
Só que você foi embora...
Cedo demais!

Eu continuo aqui
Meu trabalho e meus amigos
E me lembro de você
Em dias assim
Dia de chuva
Dia de sol
E o que sinto não sei dizer...

Vai com os anjos
Vai em paz
Era assim todo dia de tarde
A descoberta da amizade
Até a próxima vez...

É tão estranho
Os bons morrem antes
Me lembro de você
E de tanta gente que se foi
Cedo demais!

E cedo demais...
Eu aprendi a ter
Tudo o que sempre quis
Só não aprendi a perder
E eu que tive um começo feliz...
Do resto não sei dizer

Lembro das tardes que passamos juntos
Não é sempre mais eu sei
Que você está bem agora
Só que neste mundo
O verão acabou.
Cedo demais!"


Legião Urbana

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Saudade...

O últimos quinze dias resultaram num turbilhão de sentimentos e acontecimentos. Por pior que ficava a situação eu não imaginava que podia acontecer... eu realmente acreditava na recuperação, acreditei até mesmo num milagre diante de tão difícil constatação... mas meu pai nos deixou no dia 05/07/2009. Sofri uma vida inteira em um dia, em poucas palavras de um médico, a me dizer o que eu insistia em não acreditar. Mas como?, me questionava. Tão rápido, tão doloroso. Ele era tão forte, tão cheio de vida e de vontade de viver, tão otimista, tão cheio de alegrias, tão, tão, tão... O mundo agora girava ao meu redor, girava exibindo um filme da minha vida, e eu relutava em acreditar que era verdade. O desespero era a minha única certeza, eu paralizei... e então senti um mundo inteiro sobre meus ombros. Fiquei sem saber o que fazer, na verdade eu não queria fazer... eu não queria nada! A vontade me faltava. O ar me faltava. Ele me faltava. Como seria sem seus conselhos, sem a sua calma e tranquilidade, sem sua capacidade de persuassão, sem sua companhia para as caipirinhas, para as conversas, para o violão. Como eu enfrentaria os problemas de trabalho, de relacionamentos, da minha própria mente, sem seus sábios e tranquilizantes conselhos. Com ele a vida me era mais fácil. Ele sempre me dava uma palavra amiga, que tranquilizava meu coração, que me acenava que eu podia seguir em frente afinal a vida era isso mesmo. Me ensinou que as experiências vividas, principalmente as mais tristes me tornava um ser humano melhor e que toda essa experiência, lembrança, sabedoria, nunca me poderia ser tirada. O que aprendemos, o que somos, nunca nos seria roubado. Poderiam nos tirar um mundo, mas nunca tirariam nossa história, nossa lembrança, nossa memória e todo o conhecimento que acumulamos. Ele era sábio. Eu gostava de conversar com ele. Ele era um ser evoluído! Esse trocadilho a gente, eu e ele, sempre usava para descrever pessoas assim, sensíveis, inteligentes e humanas que nos cruzavam o caminho. Como viveria sem nossas conversas ao longo dos trinta quilometros que percorríamos quase que diariamente do nosso trabalho ao nosso lar. A gente discutia, constatava, sentia, ria, se emocionava numa química perfeita! Ele me entendia. Eu entendia ele. Tínhamos os mesmos gostos. Acho que aprendi a gostar das coisas como ele. A gostar da vida como ele. A gostar de uma festa como ele. A gostar de dançar como ele. Hoje eu percebo isso. Era bom gostar das coisas que ele gostava, porque essas coisas eram sempre muito boas mesmo! A qualquer sinal de problemas ele se apressava em dizer que o importante era ter saúde, fé, e força de vontade pra seguir adiante ou até mesmo recomeçar. Vivemos momentos dificílimos com a empresa, mas nenhum teve papel tão grande na nossa vida a ponto de nos desestruturar. Ele não permitia. Agradecia pela saúde. Pela vida. Pelos amigos. Pelos netos que lhe davam tanta alegria. Difícil encontrar ser humano assim. Tão sereno. Tão certo. Como viveria sem aquela sinceridade irritante. Ele quase sempre me entregava. Mas tinha uma forma tão peculiar, tão própria de falar a verdade que convencia a todos em poucas palavras. Eram palavras sinceras, que saiam da alma e que tocava pela simplicidade e verdade. Não dava para se magoar. Como eu poderia viver sem ele era a única pergunta que me fazia naquele momento em que recebemos a triste notícia. Eu ainda procurava aquela esperança de que podia ser mentira. Aquele milagre em que me apeguei a poucas horas antes apesar de saber que o presente estado, os presentes parâmetros não eram compatíveis com vida! Com esses questionamentos eu já percebia o quanto a saudade doia. Ali eu já sentia saudade de tudo que vivemos juntos. Difícil demais. Golpe duro. Impossível acreditar.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

...

Hoje acordei angustiada... Me arrumei depressa para encontrá-lo! O tio Carlinhos passou a noite lá, e eu não o via desde a manhã de ontem. Por causa da arritmia agora ele está em quarto individual, numa espécie de terapia semi-intensiva, as visitas ficaram mais controladas, todos querem vê-lo e por isso eu não precisei voltar antes. Mas ficar assim tanto tempo sem encontrá-lo é demasiado angustiante. Por mais que nos falem que está tudo da mesma forma estável, eu só tranquilizo quando o vejo. Preciso vê-lo, sentí-lo, como se eu pudesse fazer algo para mudar a situação, na verdade se não posso fazer muito posso ao menos dar-lhe carinho, fazê-lo sentir que eu estou com ele, pronta pra ajudá-lo nesta guerra. Troquei a pulseira de acompanhante com o tio Carlinhos, e notei preocupado semblante. Com um imenso nó na garganta, quase que num suspiro perguntei como ele estava. A essa altura eu já estava com o coração disparado, as pernas trêmulas e sob um vedaval "adrenalítico". Ora, fazia quase vinte horas que não o via, e quando sai ele não me parecia bem! E de fato não estava... Passou a noite delirante, mostrando claro déficit de memória. Seu coração continuava muito acelerado e lhe faltava ar... Depois dessa prévia, não preciso dizer que cruzei aquele longo corredor mais rápido que um maratonista, subi as escadas saltando três a quatro degrais de vez e em segundos estava no quinto andar! Ao avistá-lo senti um misto de alívio e medo... alívio porque já estava com ele e medo de vê-lo cada vez mais "aparelhado". Ao me ver ele sorriu... Dormiu... Ao acordar queria levantar da cama... Eu disse que não podia, e pela primeira vez vi meu pai reclamar... Ele não aguentava mais aquela situação... Tentei acalmá-lo, dá-lhe força e esperança mas percebi que em momentos ele não me percebia... parecia dormir acordado! Sofri uma vida em segundos... Me questionei porque tinha que passar por tudo aquilo. Pequei. Ele dormiu novamente. A esse momento eu já não conseguia conter as lágrimas. Sai pra me recompor.
Em meio a esse turbilhão chegou minha vó para visitá-lo. Ela estava em viajem na casa da minha outra tia, a Patrícia, irmã do meu pai, em Cuiabá e embora sabia de sua internação não tinha noção de sua gravidade! Ao vê-la ele abriu um caloroso sorriso. O mais bonito que eu pude ver de toda internação. Ela pegou-lhes a mão, falou que o amava, que gostaria de poder fazer algo mais, mas que como não podia mover um mundo para ajudá-lo podia sim rezar com toda a fé que lhe era peculiar. Eu não preciso dizer o quanto aquela cena novamente me emocionou, e o imenso esforço que fiz para segurar as lágrimas e falar naturamente com eles apesar de parecer estar com algo fortemente amarrado na garganta. Troquei então com a Paty e já lá embaixo com o tio Carlinhos lamentamos a dificuldade pra ele apresentar melhoras.
Ao descer minha vó estava também preocupada e disse que iria triplicar suas orações. Ao fitá-la novamente e ver o desespero em seus olhos, passou um filme em minha mente. Ela perdera o companhero, meu avô, a menos de onze meses, e alí estava passando pelo mesmo golpe novamente. Viveu a tão pouco tempo toda essa tristeza da internação, e agora o filho! Não sei se como filha, senti o que ela como mãe, sentiu naquele momento, ofegante ela suspirou "Meu Deus" como que num suspiro a dizer não me abandone.
Voltei pro quarto. Ora ele me chamava, ora delirava. Não dizia nada com nada. Delirava novamente, surtava, tinha febre, infecção generalizada, a essa altura já diagnosticada.
Quase na hora de minha mãe chegar, ele já perguntava por ela. Aliás, desde que cheguei e passei a ficar mais no hospital e ela vir um pouco menos, ele sempre pedia por ela. Então brinco que ele não quer essa assistente, ele ri. É sempre assim. Na verdade ele sabe que ela vem após o almoço... o interessante é que ele já não tem noção de hora visto que já está internado há 38 dias... mas sente quando ela está chegando!