quarta-feira, 1 de julho de 2009

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Hoje acordei angustiada... Me arrumei depressa para encontrá-lo! O tio Carlinhos passou a noite lá, e eu não o via desde a manhã de ontem. Por causa da arritmia agora ele está em quarto individual, numa espécie de terapia semi-intensiva, as visitas ficaram mais controladas, todos querem vê-lo e por isso eu não precisei voltar antes. Mas ficar assim tanto tempo sem encontrá-lo é demasiado angustiante. Por mais que nos falem que está tudo da mesma forma estável, eu só tranquilizo quando o vejo. Preciso vê-lo, sentí-lo, como se eu pudesse fazer algo para mudar a situação, na verdade se não posso fazer muito posso ao menos dar-lhe carinho, fazê-lo sentir que eu estou com ele, pronta pra ajudá-lo nesta guerra. Troquei a pulseira de acompanhante com o tio Carlinhos, e notei preocupado semblante. Com um imenso nó na garganta, quase que num suspiro perguntei como ele estava. A essa altura eu já estava com o coração disparado, as pernas trêmulas e sob um vedaval "adrenalítico". Ora, fazia quase vinte horas que não o via, e quando sai ele não me parecia bem! E de fato não estava... Passou a noite delirante, mostrando claro déficit de memória. Seu coração continuava muito acelerado e lhe faltava ar... Depois dessa prévia, não preciso dizer que cruzei aquele longo corredor mais rápido que um maratonista, subi as escadas saltando três a quatro degrais de vez e em segundos estava no quinto andar! Ao avistá-lo senti um misto de alívio e medo... alívio porque já estava com ele e medo de vê-lo cada vez mais "aparelhado". Ao me ver ele sorriu... Dormiu... Ao acordar queria levantar da cama... Eu disse que não podia, e pela primeira vez vi meu pai reclamar... Ele não aguentava mais aquela situação... Tentei acalmá-lo, dá-lhe força e esperança mas percebi que em momentos ele não me percebia... parecia dormir acordado! Sofri uma vida em segundos... Me questionei porque tinha que passar por tudo aquilo. Pequei. Ele dormiu novamente. A esse momento eu já não conseguia conter as lágrimas. Sai pra me recompor.
Em meio a esse turbilhão chegou minha vó para visitá-lo. Ela estava em viajem na casa da minha outra tia, a Patrícia, irmã do meu pai, em Cuiabá e embora sabia de sua internação não tinha noção de sua gravidade! Ao vê-la ele abriu um caloroso sorriso. O mais bonito que eu pude ver de toda internação. Ela pegou-lhes a mão, falou que o amava, que gostaria de poder fazer algo mais, mas que como não podia mover um mundo para ajudá-lo podia sim rezar com toda a fé que lhe era peculiar. Eu não preciso dizer o quanto aquela cena novamente me emocionou, e o imenso esforço que fiz para segurar as lágrimas e falar naturamente com eles apesar de parecer estar com algo fortemente amarrado na garganta. Troquei então com a Paty e já lá embaixo com o tio Carlinhos lamentamos a dificuldade pra ele apresentar melhoras.
Ao descer minha vó estava também preocupada e disse que iria triplicar suas orações. Ao fitá-la novamente e ver o desespero em seus olhos, passou um filme em minha mente. Ela perdera o companhero, meu avô, a menos de onze meses, e alí estava passando pelo mesmo golpe novamente. Viveu a tão pouco tempo toda essa tristeza da internação, e agora o filho! Não sei se como filha, senti o que ela como mãe, sentiu naquele momento, ofegante ela suspirou "Meu Deus" como que num suspiro a dizer não me abandone.
Voltei pro quarto. Ora ele me chamava, ora delirava. Não dizia nada com nada. Delirava novamente, surtava, tinha febre, infecção generalizada, a essa altura já diagnosticada.
Quase na hora de minha mãe chegar, ele já perguntava por ela. Aliás, desde que cheguei e passei a ficar mais no hospital e ela vir um pouco menos, ele sempre pedia por ela. Então brinco que ele não quer essa assistente, ele ri. É sempre assim. Na verdade ele sabe que ela vem após o almoço... o interessante é que ele já não tem noção de hora visto que já está internado há 38 dias... mas sente quando ela está chegando!

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