A gente sempre gostou de uma boa farra. Se somasse caipirinha, amigos e violão então, tudo ficava perfeito. Nos últimos anos a gente se reunia frequentemente no sítio da amiga Lane e deixava rolar essa combinação prazerosa. Era pegar no violão e ele logo disparava, "Lê, toca a minha". Ao passo que as pessoas iam descobrindo a música dele, percebiam que a escolha era imponente. Não era uma música qualquer! Era uma música que não se "cantava, se interpretava". Certa vez ele falou isso pra mim... que ele gostava de me ouvir interpretá-la, que era a melhor que eu cantava e enquanto eu cantava ele "babava", palavras da dona Oswalda e mais outras pessoas que presenciavam nossa química! Procurei uma versão que mais se parecesse com a forma com que eu a cantava, e aqui vai, meu presente de dia dos pais, pra ele que foi, que continua sendo, tudo na minha vida, meu ídolo, meu pai, meu herói!
sábado, 8 de agosto de 2009
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
Avô com A maiúsculo
Hoje pela manhã peguei minha xícara de café e me sentei na sala. Como ainda me restavam alguns minutos liguei a TV. No comercial o anúncio do dia dos Pais. Nossa, a pontada no coração foi instântanea. Poxa vida, não tenho mais pai!!! E uma vez mais sua ausência me faltou tão profundamente. Na mais sincera melancolia me lembrei dos muitos dias dos pais que vivemos. Ainda pequenos quando eu, a Li e o Eder nos atropelávamos para saber quem subiria primeiro na cama dele para abraçá-lo, um dia lhes servindo um café na bandeja, outro lhe entregando um presente, ou apresentando algo que nós passamos uma semana preparando para lhe mostrar. E assim foram passando os anos... com muito carinho e respeito. Mais recente, ainda morando em Campinas, a Li já corria na frente para abraçá-lo, e não posso deixar de mencionar aquele jeitinho encabulado em que ele recebia o afago. Um sorrisinho de canto de boca... A Li lhe cobrindo de beijos e apertos e ele todo envergonhado, mas adorando tudo aquilo. Logo vieram os netos e aí a vergonha foi embora... ele aproveitava o ensejo para cobrar-lhes o beijo, o abraço. E como amaram esse vô! Os desenhos na escolinha sempre eram de uma grande família... Um dia a professora falou pro Diego que a família dele era o papai, a mamãe e o Victor... ele se revoltou e disse que aquela era a família dele, somando o vovô e a vovó, e ela insistiu que era mesmo, mas no desenho era para colocar somente os que moravam na mesma casa que ele, e ele mais uma vez reforçou que todos moravam juntos e que éramos "essa" família, daquele jeito mesmo! A professora em uma oprotunidade me contou a história e falou do tanto que o vô e a vó era importante para eles. De fato foi e eu lamento que eles foram privados tão cedo dessa convivência. Eles estavam sempre ao redor do meu pai e já na fase do porque a gente se divertia com as perguntas lançadas sempre que ele estava empenhado no conserto de alguma coisa da casa. Eles ficavam fascinados que o vô sabia consertar tudo. Um dia acordaram meu pai chorando que uma motoca havia quebrado! Era só encaixar a roda que se soltara... mas eles foram crescendo e a roda já não aguentava o peso e as manobras radicais. O Vô fez uma perfeita engenharia na roda, furou, parafusou, instalou lâmina de aço e pronto "faz o teste Victor". Eles acharam o máximo além de resolvido tinha ficado perfeito! Já estão com quase cinco e a motoca continua, amiga inseparável. São lembranças doces e felizes mas que me levam a lamentar a perda tão jovem... Assim também fez o Diego, quando lhe falei que o vovô tinha morrido ele chorou sofrido e me questionou quem é que ia consertar os brinquedos dele! Na missa agora a pouco, padre Maurício me falou dessa fase que se inicia, a ausência se torna presença, uma vez que a gente começa a perceber a falta da pessoa nas diversas atividades... Porém me corrigiu na minha constatação de que não tinha mais pai... "Pai é único, é eterno, mesmo que ele não esteja fisicamente presente conosco, ele vai estar sempre, na memória, nos ensinamentos que deixou, na educação que plantou, em todas as lembranças de sua existência".
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Um vazio...
Hoje minha mãe chorou. Ela não me falou mas eu sei. Há cerca de um mês ela estava lá no hospital, aquele mesmo dia da visita da minha vó, o dia no qual decidiram que meu pai precisava ser colocado em coma induzido estado do qual não mais voltou! Ela bordava uma toalha na espera de sua melhora. Foi assim os últimos dias, meu pai dormia muito, pouco conseguíamos conversar com ele. Eu lia, minha mãe bordava. Era um olho no gato e outro no peixe, literalmente. A aparente situação dele não nos era de longe cômoda. Embora acreditássemos na cura, a gente se impressionava com o desenrolar do tratamento. Incomodada, angustiada ela notou que ele estava muito mal naquele dia. Não foi uma única vez que comentou com os enfermeiros. Sem resposta. Foi quando o médico passou para os exames de rotina e confirmou seus sentimentos. Era preciso entubá-lo e sedá-lo. Nesta triste constatação ela guardou o bordado e a pedido do médico se retirou da sala. Hoje ela pegou o bordado, depois de todo esse tempo. Quando cheguei me confidenciou que foi difícil. Foi como assistir um filme daquele momento. A lembrança lhe veio forte e implacável. Ela não precisou me dizer que não conteve as lágrimas... Mas era preciso enfrentar mais essa forte lembrança. Desde que chegamos aqui, tem sido assim. Cada dia uma lembrança. Impossível não se emocionar. Também hoje, ao cruzar a porta do apartamento, dei meia volta e chequei a caixinha de correio. Estava vazia. Mais vazio ficou meu coração ao lembrar que ele sempre questionava minha mania. Eu não passava um momento sequer sem enfiar a mão na caixa de correio. Poderia passar dez vezes ao dia, que dez vezes o faria. E ele muito rápido disparava: "Lá vai ela na caixa de correio". Eu olhava pra ele e sorria. Ele chacoalhava o corpo e mordia a língua sorrindo de um jeito tão próprio, tão seu como se estivesse me provocando. Hoje ao aproximar da caixa de correio, parei. O silêncio tomou conta do meu ser. Como se o mundo tivesse parado. Caminhões, carros, motos, ônibus, as crianças da escola, os pedestres no ponto, os clientes da loja, todos silenciaram. Ou será que silenciei todos? Eu precisava escutar ele a me provocar. Nada. Nenhum som. Bati a mão dentro da caixa. O som oco do vazio. Tão vazio quanto me senti naquele momento.
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