Hoje minha mãe chorou. Ela não me falou mas eu sei. Há cerca de um mês ela estava lá no hospital, aquele mesmo dia da visita da minha vó, o dia no qual decidiram que meu pai precisava ser colocado em coma induzido estado do qual não mais voltou! Ela bordava uma toalha na espera de sua melhora. Foi assim os últimos dias, meu pai dormia muito, pouco conseguíamos conversar com ele. Eu lia, minha mãe bordava. Era um olho no gato e outro no peixe, literalmente. A aparente situação dele não nos era de longe cômoda. Embora acreditássemos na cura, a gente se impressionava com o desenrolar do tratamento. Incomodada, angustiada ela notou que ele estava muito mal naquele dia. Não foi uma única vez que comentou com os enfermeiros. Sem resposta. Foi quando o médico passou para os exames de rotina e confirmou seus sentimentos. Era preciso entubá-lo e sedá-lo. Nesta triste constatação ela guardou o bordado e a pedido do médico se retirou da sala. Hoje ela pegou o bordado, depois de todo esse tempo. Quando cheguei me confidenciou que foi difícil. Foi como assistir um filme daquele momento. A lembrança lhe veio forte e implacável. Ela não precisou me dizer que não conteve as lágrimas... Mas era preciso enfrentar mais essa forte lembrança. Desde que chegamos aqui, tem sido assim. Cada dia uma lembrança. Impossível não se emocionar. Também hoje, ao cruzar a porta do apartamento, dei meia volta e chequei a caixinha de correio. Estava vazia. Mais vazio ficou meu coração ao lembrar que ele sempre questionava minha mania. Eu não passava um momento sequer sem enfiar a mão na caixa de correio. Poderia passar dez vezes ao dia, que dez vezes o faria. E ele muito rápido disparava: "Lá vai ela na caixa de correio". Eu olhava pra ele e sorria. Ele chacoalhava o corpo e mordia a língua sorrindo de um jeito tão próprio, tão seu como se estivesse me provocando. Hoje ao aproximar da caixa de correio, parei. O silêncio tomou conta do meu ser. Como se o mundo tivesse parado. Caminhões, carros, motos, ônibus, as crianças da escola, os pedestres no ponto, os clientes da loja, todos silenciaram. Ou será que silenciei todos? Eu precisava escutar ele a me provocar. Nada. Nenhum som. Bati a mão dentro da caixa. O som oco do vazio. Tão vazio quanto me senti naquele momento.
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário